domingo, 25 de setembro de 2011

Em busca de um lugar no mundo

Uma tendência se afirma no mundo atual. O Brasil tornou-se protagonista importante do sistema internacional. A imagem do país deixou de ser a do café, do futebol-espetáculo, do samba e da bossa-nova, do território imenso e das riquezas naturais. Há, é verdade, a corrupção que se mantém, os bolsões de miséria que ainda persistem, as falhas grotescas de infraestrutura, mas também se sabe que a sociedade civil demonstra algum poder de reação e que soluções vêm sendo tentadas de forma sistemática pelos governos. O país é visto hoje mais por seus acertos que pelos erros.
Naquilo que se poderia chamar de opinião pública internacional, o Brasil é tratado como uma economia industrial expressiva, dotada de um mercado interno invejável, uma sociedade que se esforça para reduzir a desigualdade e retirar milhões de pessoas da pobreza extrema, e que está conseguindo avançar nesta direção sem retroceder em termos políticos, ao contrário, exibindo um sistema democrático que se consolida.  
Foi esse um dos pontos de sustentação do belo discurso com que a presidente Dilma Rousseff abriu a 66ª Assembleia Geral da ONU, quarta-feira passada, dia 21/09.
O fato mais importante a explicar a nova posição relativa do Brasil está associado às modificações que afetam a estrutura internacional. O mundo mudou, vive outra fase, e clama por novas ideias e atitudes no terreno das relações internacionais.  Um novo tipo de cooperação, reforma das instituições financeiras, ajustes no Conselho de Segurança, coragem e ousadia – é o que se espera das lideranças mundiais. O desafio posto pela crise, que é econômica, de governança e de coordenação, disse a presidente, “é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo”.
As grandes potências não podem mais controlar o sistema, nem funcionar como garantidores de um padrão de ordem internacional. Já não há a unipolaridade que pareceu se instituir no mundo depois da Queda do Muro em 1989. Mas a “multipolaridade” (União Europeia, Japão, BRICS) é somente um esboço, graças aos diversos problemas específicos que cada um destes polos apresenta. Ainda que os EUA continuem a ser poderosos, não somente estão enfraquecidos como também afirmam seu poderio num mundo povoado por outras potências importantes, países emergentes, redes sociais, fluxos vários e inúmeros atores não-governamentais, num contexto econômico em que os mercados ficaram mais fortes do que a regulação política empreendida pelos Estados.
O mundo se tornou “pós-americano”, tal como sugerido pelo cientista político Fareed Zakaria: um sistema internacional híbrido, mais democrático, mais dinâmico, mais aberto e conectado, no qual os EUA declinam economicamente e perdem força relativa. Um mundo com “muitas potências e uma superpotência”, segundo os chineses. No qual todos agem e pesam: o centro e o “resto”, as grandes, as médias e as pequenas potências, as regiões, os Estados e os atores não-estatais, os lugares e as pessoas. Todos, de certo modo, ganharam poder. A hierarquia, a centralização e o controle passaram a ser minados ou subvertidos exclusivamente em decorrência da lógica das coisas. Todos se tornaram dependentes uns dos outros.
A crise econômica, a falta de lideranças mundiais e as indefinições quanto ao futuro das grandes potências fizeram com que os países emergentes ganhassem projeção política e econômica. Vários deles estão a aproveitar a situação para melhorar sua distribuição de renda, aperfeiçoar sua gestão econômico-financeira e crescer comercialmente.
O Brasil, com isso, tornou-se uma espécie de enigma, cujos movimentos são mais difíceis de prever e mais desenvoltos. Seus passos têm maior audácia, seja no âmbito comercial, seja em termos de tomada de posições e alinhamentos internacionais. Praticando um pragmatismo temperado, complexo e necessário e pelo qual paga algum preço, surge com força em áreas que antes lhe estavam vedadas.
Um dos mais expressivos indicadores da envergadura adquirida pelo país é sua participação ativa naquele misto de associação e pacto que se tem convencionado chamar de BRICS, o bloco mais ou menos informal integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Não se trata de uma união circunstancial, mas de uma operação que revela o progressivo deslocamento de poder na cena internacional.
A presença brasileira entre os BRICS está impulsionada pelos resultados obtidos nas duas últimas décadas, que tornaram o país mais maduro em termos econômicos e fiscais-financeiros, em condições portanto de projetar um ciclo mais virtuoso de desenvolvimento. A melhoria que se observa na distribuição de renda e a estabilidade monetária indicam o legado positivo da política econômica e das políticas sociais que vêm sendo empregadas quase sem rupturas desde a metade dos anos de 1990.
O Brasil poderá ganhar força e relevância no mundo de diferentes maneiras. Uma delas passa pela construção de barreiras que neutralizem os efeitos deletérios da economia internacional e da crise econômico-financeira das grandes potências. Também será decisivo o modo como entrará no novo mundo: com que produtos, com que tecnologia, com qual projeto de sociedade. Mas também é razoável supor que boa parte de seu sucesso futuro dependerá da capacidade que tiver de praticar, com maior vigor, políticas de integração regional que se ponham num patamar mais amplo do que o intercâmbio comercial, ou seja, que aproximem de fato povos, regiões, sociedades e culturas e se sintonizem com as particularidades dos diferentes países.
Trata-se de uma ênfase inteiramente respaldada pela Constituição e que encontra a mais viva sustentação no núcleo da política externa, que continua a seguir, fiel às suas melhores tradições, uma perspectiva plural, que valoriza a paz, o multilateralismo, a abrangência e a abertura para o mundo. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 24/09/2011, p. A2]

sábado, 24 de setembro de 2011

Simpósio em Nova York analisa o Brasil no mundo


 
 
 
 
 


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O Brasil está se tornando um protagonista cada vez mais importante no sistema internacional. É visto hoje como uma vigorosa economia industrial, uma sociedade que se esforça para reduzir a desigualdade e retirar milhões de pessoas das zonas indignas da pobreza extrema, e que está conseguindo avançar nesta direção sem retroceder em termos políticos. Como um país que ensaia passos mais audaciosos, seja no âmbito comercial, seja em termos de política externa.
Para examinar e discutir essa nova situação, o Instituto Joaquim Nabuco de Governo e Diplomacia, patrocinado pela Brazilian Endowment for the Arts, realizou nos dias 12 e 13 de setembro, na sede do Institute of International and Public Affairs, Columbia University, o Simpósio Internacional "O Novo Brasil no cenário mundial".
Do evento participaram especialistas brasileiros e norte-americanos, que procuraram analisar alguns dos mais importantes aspectos da nova situação internacional e avaliar o lugar que nela ocupa o Brasil. Foram eles: o Cônsul-Geral do Brasil em New York, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, o  professorThomas Trebat, diretor executivo do Institute of Latin American Studies/Center for Brazilian Studies, Columbia University, o economista Aristides Monteiro Neto, Assessor-Chefe de Planejamento e Articulação Institucional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-IPEA,  o historiador Marshall Eakin, da Vanderbilt University e ex-Diretor Executivo da Brazilian Studies Association-BRASA, o historiador Humberto França, da Fundação Joaquim Nabuco, o economista Fernando Freire, presidente da Fundação Joaquim Nabuco, e o Ministro-Conselheiro da Missão do Brasil junto à ONU, Maurício Carvalho Lyrio.
Em minha intervenção, no segundo dia do evento, procurei salientar o papel que o Brasil pode ter no terreno da integração regional. O país pode se tornar um player comercial destacado, explorando por exemplo as relações que mantém com a China e incrementando seu próprio papel como construtor do bloco BRICS. Sua política externa poderá auxiliá-lo sobremaneira, especialmente se preservar e atualizar os valores de respeito à autodeterminação e à soberania dos povos que ocupam lugar de destaque nas tradições de independência do Itamaraty. Mas também é razoável supor que boa parte de seu sucesso futuro dependerá da capacidade que tiver de praticar políticas de integração regional que se ponham num patamar mais amplo do que o intercâmbio comercial, ou seja, que aproximem de fato povos, regiões, sociedades e culturas e se sintonizem com as particularidades dos diferentes países.
A intervenção pode ser assistida acima. Começa exatamente no ponto 01:00, logo após a apresentação musical.
O simpósio foi encerrado por Domício Coutinho, Presidente do Instituto Nabuco e da Brazilian Endowment for the Arts, que recordou que em 2010, a BEA  reuniu em Nova York um grupo de professores, diplomatas e pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, que realizaram um simpósio de idêntica relevância. Naquela ocasião, fundou-se o Instituto Joaquim Nabuco de Governo e Diplomacia, com dois objetivos precípuos: (a) fortalecer e ampliar a democracia vigente, apoiando-a na dignidade do Homem e em governos do povo, pelo povo e para o povo; (b) contribuir para que prevaleça sempre mais no plano internacional e nos distintos planos nacionais o diálogo, a diplomacia e os esforços em prol da paz. Desde então, o Instituto Nabuco tem procurado colaborar para que os estudos de acadêmicos e cientistas brasileiros sejam mais bem conhecidos nos Estados Unidos, em correspondência com os espaços alcançados pelo Brasil no cenário global.  O segundo Simpósio Internacional inseriu-se neste contexto e seu sucesso, expressado pela alta qualidade das conferências apresentadas, indica que o Instituto Nabuco está no caminho certo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Simpósio em NY: O Brasil no Cenário Mundial


Nos dias 12 e 13 de Setembro de 2011, o Instituto Joaquim Nabuco de Governo e Diplomacia, sediado em Nova York sob o patrocínio da Brazilian Endowment for the Arts (http://www.brazilianendowment.org), realiza o Simpósio Internacional O Novo Brasil no Cenário Mundial, no auditório da Columbia University.

Que papel está reservado ao Brasil na cena mundial contemporânea? Que importância há no fato do Brasil ser o único país do continente americano a fazer parte do BRIC? Quais os desafios, as potencialidades e as afinidades estratégicas entre o Brasil e os EUA, tendo em vista as mudanças em curso no mundo e na América do Sul? 

O Simpósio reunirá diplomatas, políticos, professores, acadêmicos, pesquisadores e brasilianistas que abordarão temas relacionados aos desafios e potencialidades do Brasil, dos EUA e da América Latina no século XXI.
 
Informações e programação abaixo.


Inscrições Abertas: Afiliação anual BEA  + Simpósio: US$40.00


Afiliados Bea: US$20.00

Columbia University – Center for Brazilian Studies
International Affair Building
420W 118th Street, 15th Floor – Room 1501 – New York, NY 10027

Brazilian Endowment for the Arts
240 East 52nd Street, New York, NY 10022
Phone:                1 212 3711556      
Email:     contact@brazilianendowment.org


                      
Simpósio Internacional
O NOVO BRASIL NO CENÁRIO MUNDIAL

Columbia University - New York - USA

12 – 13 setembro de 2011
 
PROGRAMAÇÃO
 
DIA 12 de setembro, segunda-feira
Columbia University
17h00   Abertura solene
Prof. Thomas Trebat, Diretor Executivo, Institute of Latin American Studies,  Columbia University
Dr. Domício Coutinho, fundador e Presidente da BEA.

18h00 Conferência de Abertura
José Sarney, Presidente do Senado Federal, Brasil.
18h30 O Brasil entre os países do BRIC
Luiz Felipe de Seixas Corrêa, Cônsul-Geral do Brasil em Nova York

19h00  A ‘China Brasileira’: a Região Nordeste, o caso de Pernambuco
Francisco Tadeu Barbosa de Alencar, sociólogo e secretário da Casa Civil do Estado de Pernambuco
19h30 O Brasil e sua Cultura no Cenário Internacional
Ana de Hollanda, Ministra da Cultura do Brasil [A confirmar]

            DIA 13 de setembro, segunda-feira 
            Columbia University
09h30 Conferência: O Brasil entre os Países Líderes do Século XXI   Antonio Patriota, Ministro das Relações Exteriores do Brasil [A confirmar]
10h00   Mesa I
O Brasil e a América Latina, um cenário novo e desafiador para os Estados Unidos.
Thomas Trebat, Diretor Executivo, Institute of Latin American Stidies, Columbia University
A Expansão das Universidades Públicas e o Papel da Fundação Joaquim Nabuco.                                                                                          Fernando Freire, Presidente da Fundação Joaquim Nabuco 
A Retomada do Desenvolvimento no Brasil: o legado  recente  e os  desafios para  esta e para as próximas décadas.                                Aristides Monteiro Neto, Assessor-Chefe, Assessoria de Planejamento e Articulação Institucional - Presidência da República do Brasil.
           12h00    INTERVALO 

14h00    Mesa II
A atualidade do pensamento estratégico de Joaquim Nabuco. Humberto França, Fundação Joaquim Nabuco MEC. 
O Brasil, passado e futuro dos brasilianistas.  
Marshal Eakin, Ex-Diretor Executivo da Brazilian Studies Association (BRASA), Vanderbilt University.
                     
Nabuco, o Brasil e o mundo, um diálogo em aberto.  
Marco Aurélio Nogueira, Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais, UNESP.
 
16h00  Conferência de Encerramento. 
Maria Luisa Viotti, Embaixadora do Brasil na Organização das Nações Unidas - ONU. [A confirmar]
 
16h30   Apresentação do livro Congresso Joaquim Nabuco e o Novo Brasil. Organizador: Humberto França - Companhia Editora de Pernambuco

        APOIO

Columbia University

Consulado Geral do Brasil em NY
Companhia Editora de Pernambuco – CEPE
Argumenta Filmes
Ringo Filmes
 
ORGANIZAÇÃO
Domício Coutinho, Presidente da Brazilian Endowment for the Arts 
Humberto França, Vice-presidente de Relações Internacionais – BEA
Alcinda Saphira, Diretora de Projetos & Produção Executiva– BEA-NY
Fernanda Pereira, Assistência Diretoria & Produção - BEA-NY
Gustavo Braga, Assistência Técnica & Cultural –BEA-NY

Thalita Campos, Assistência Diretoria - BEA-NY